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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Em outra ponta, temos uma classe trabalhadora precarizada, próxima dos herdeiros da escravidão, secularmente abandonados. Eles se reproduzem aos trancos e barrancos, formam uma espécie de família desestruturada, sem acesso à educação formal. É majoritariamente negra, mas não só. Aos negros libertos juntaram-se, mais tarde, os migrantes nordestinos. Essa classe desprotegida herda o ódio e o desprezo antes destinados aos escravos. E pode ser identificada pela carência de acesso a serviços e direitos. Sua função na sociedade é vender a energia muscular, como animais. É ao mesmo tempo explorada e odiada.

domingo, 15 de novembro de 2015

Um novo tempo se inicia na vida. Um velho tempo teima em permanecer. Assim podemos descrever os acontecimentos na Europa e o no Oriente Médio. Assim podemos perceber as contradições nos sistemas de produção da economia. O capitalismo não pode mais atender aos anseios da humanidade. Mas a burguesia, para defender sua ganância, é capaz de explodir o planeta com energia nuclear.

domingo, 8 de dezembro de 2013

QUANDO O ESPÍRITO VOA!!!



Quando queremos a liberdade, o reencontro, a alegria da vida, todo sacrifício vale a pena. Afinal, esse é também o nosso paraíso. Eu acredito nesta afirmação. E me junto a outros para cantá-la pelo mundo.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=1G4isv_Fylg#t=28

POR QUANTO TEMPO AINDA

Por quanto tempo deve o ser humano trabalhar? Dezoito horas, oito horas, seis horas? Sessenta anos, setenta, uma vida inteira, uma existência? Por quanto tempo é lícito sugar as "faculdades físicas e espirituais que existem na corporalidade, na personalidade viva" de um ser humano? Por quanto tempo é legal transformar um ser humano em mercadoria e consumi-lo no processo de trabalho e de valorização?

Algumas mulheres muitos anos atrás cruzaram os braços sobre os seios cobertos de "devils and dust",(demônios e poeira) do pó mortal que cobre o ar nas tecelagens e lhes impregna o pulmão, e disseram que oito horas era o bastante (era a ano de 1857 ou 1911 ou o tempo da exploração capitalista). Que por um tempo do dia elas se pertenceriam, que seus corpos seriam carícias e não fios, que seus lábios seriam carícias e não fios, que seus lábios seriam beijos e não valores de uso, que seus cérebros seriam idéias e não valor. Que por uma parte do dia, ao menos, levariam seus corpos a passear e a cuidar de si e de seus amados e olhariam o mundo lavado pela chuva e respirariam seu cheiro puro em seus pulmões cansados.

Quando as portas da fábrica se fecharam não sabemos da expressão de pânico em seus rostos, podemos apenas adivinhar o pavor nos olhos que a pouco brilhavam como apenas brilham os olhos de quem redescobre sua dignidade, podemos imaginar as narinas dilatadas pelo medo, podemos supor o último abraço na companheira ao lado que chorava enquanto as chamas consumiam o capital constante... o prédio, as máquinas... não mais lambidas pelo fogo do trabalho vivo, mas agora pelo ódio de classe, pelo ódio assassino. Podemos ainda ouvir o último suspiro e a esperança carbonizada naqueles corpos de meninas...

Naqueles minutos onde tudo ardia via-se sombras sobre o telhado da fábrica em chamas... espectros de bruxas e parteiras, de meninas que acariciavam seu sexo e adivinhavam o futuro, fantasmas de mães e filhas, de avós e putas que riam dos deuses e dos homens. Até que tudo não foi mais que cinzas. Por isso, depois que o carnaval passar com seus cortejos e a quarta feira trouxer suas cinzas neste oito de março, recolha-as, beije com carinho as cinzas de nossas meninas que a tanto tempo vagueiam pelo mundo levadas pelo tempo e se puder lhes perguntem: Por quanto tempo... por quanto tempo... por quanto tempo ainda?

HOMENAGEM DO COLETIVO DE GÊNERO DO FNM AO 8 DE MARÇO

sábado, 30 de novembro de 2013

AS CRISES ECONÔMICAS E A TEORIA MARXISTA


"A base do modo de produção capitalista é a produção de mais-valia para valorizar o capital, este entendido como valor em processo, valor que procura se valorizar, valor que entra na circulação para se multiplicar e se acumular. A mais-valia, por sua vez, é materialização de tempo de trabalho não-pago, ou rendimento de trabalho alheio acumulado. O processo de produção capitalista é, portanto, processo de produção de mais-valor. O motor da produção capitalista é a obtenção permanente de mais-valor, e a origem do mais-valor é a exploração da força de trabalho humana, decorrente da divisão de classes, fruto da forma de apropriação dos meios de produção que gera a relação antitética entre proprietários e não-proprietários dos meios de produção, isto é, capitalistas e trabalhadores.

A relação de negatividade que caracteriza a sociedade capitalista faz com que o trabalhador tenha que vender sua força de trabalho para o capitalista e dele receber um salário, fruto de um contrato aparentemente livre, mas essencialmente opressor: o contrato determina como e quanto tempo o operário deve trabalhar. O despotismo na fábrica decorre de uma necessidade do capital: a divisão do trabalho que, através dos avanços técnicos e dos graus de especialização do trabalho, faz aumentar a produtividade, acumulando mais capital.

" Osvaldo Coggiola & José Martins"
Do núcleo de Educação Popular 13 de Maio


NO CAMINHO COM MAIAKÓVISKI


Veja como está:
A caminho com Maiakovski
(Bertolt Brecht)


Na primeira noite, eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim: não dizemos nada.
Na segunda, já não se escondem. Pisam as flores, matam o nosso cão e não dizemos nada.
Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.


Veja como é:

NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakósvki.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!


EDUARDO ALVES DA COSTA
Niterói, RJ, 1936


sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

ELOGIO DA PREGUIÇA



Bendita sejas tu, preguiça amada,
Que não consentes que eu me ocupe em nada.
Mas, queiras tu, preguiça, ou tu não queiras,
Hei de dizer em versos, quatro asneiras.

Não permuto por toda a humana ciência
Esta minha honestíssima indolência.
Está na Bíblia esta doutrina sã:
Não te importes com o dia de amanhã.

Para mim, já é grande sacrifício
Ter de engolir o bolo alimentício.
Oh! Sábios! Dai à luz um novo invento:
A nutrição ser feita pelo vento.

Todo trabalho humano em que se encerra?
Em, na paz, preparar a luta, a guerra.
Dos tratados, e leis, e ordenações,
Zomba a jurisprudência dos canhões.

Juristas que queimais vossas pestanas,
Tudo o que legislais dá em pantanas.
Plantas a terra, lavrador? Trabalhas
Para atiçar o fogo das batalhas.

Cresce o teu filho; é forte, é belo, é louro.
Mais uma rês votada ao matadouro,
Pois, se assim é, se os homens são chacais,
Se preferem a guerra à doce paz,
Que arda depressa a colossal fogueira
E morra, assada, a humanidade inteira.

Não seria melhor que toda gente,
Em vez de trabalhar fosse indolente?
Não seria melhor viver à sorte,
Se o fim do mundo é sempre o nada, a morte?

Queres riquezas, glórias e poder...
Para que, se amanhã tens de morrer?
Qual mais feliz, o mísero sendeiro,
Sob o chicote e as pragas do cocheiro,
Ou seus antepassados que, selvagens,
Comiam livremente nas pastagens?

Do trabalho, por serem tão amigas,
Não sei se são felizes as formigas.
Talvez o sejam mais, vivendo em farras,
As preguiçosas, pálidas cigarras.

Oh! Laura! Tu te queixas que eu, farsista,
Ontem faltei à hora da entrevista,
E que ingrato, volúvel e traidor,
Troquei o teu amor por outro amor,
Ou que, receando a fúria marital,
Não quis pular o muro do quintal...

Que não me faças mais essa injustiça!
Se ontem, não fui te ver, foi por preguiça.
Mas, Juvenal estás a trabalhar!
Larga a caneta e vai dormir, sonhar!

Juvenal Antunes