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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A MISSÃO DE TIÃO VIANA

Em suas reflexões José Saramago nos trás a seguinte formulação:

"O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas."

Penso que esta reflexão se encaixa perfeitamente na conjuntura do Acre pós-eleição, para, se bem ouvirmos, ou como diz Toinho Alves, se auscultarmos, a termos como guia para o ambiente que interessa a sociedade acreana com o governo eleito.

Talvez fosse a boa hora de fazermos uma profunda avaliação. Assim mesmo, com opiniões recortadas ou com algumas mais formuladas resgatando a história dos 12 anos de governo da Frente Popular.

Mas, avaliação não tem sido recorrente em nosso meio. É comum ouvir "dos que se dizem experientes e hábeis na política", a observação de que uma avaliação eleitoral deve ser feita longe do calor das urnas, depois que a poeira baixa e os ânimos acirrados se acalmam. Este caminho é percorrido para que de um lado se possa ter mais tolerância com as visões críticas, apressadas e mais "ácidas". E, por outro, lado para que as leituras possam ser melhor medidas na hora de serem externadas.

É bom o exercício da sensatez, mas seria ótimo ele ser realizado na poeira alta, no calor das urnas, pois seria possível colher frutos que só florescem nesse momento.

Sem me preocupar com o calor e a poeira vou me apegando à outra reflexão de Saramago que diz "Sempre chega a hora em que descobrimos que sabíamos muito mais do que antes julgávamos.", para tentar uma reflexão e por boa coerência e por benevolência do blogueiro, me dispor a conversar sobre o tema.

O debate então aqui, em minha opinião, deve se estabelecer à partir do que efetivamente determinou o povo acreano, deixando claro certas questões:

A primeira a ser afirmada é que a Frente Popular com Tião Viana, ganhou a eleição. Com diferença grande ou pequena?! podemos mesmo relativizar esta questão. Alguns, a exemplo da última eleição municipal em Rio Branco, partirão do princípio de que a expectativa dessa diferença era gigantesca e o resultado demonstrou o inverso. Outros, poderão afirmar com o mesmo grau de certeza, de que a eleição foi ganha com a diferença precisa para não ir a segundo turno, portanto, a margem necessária. Onde ganhou, onde não ganhou? O fato aqui é: a oposição foi derrotada nas urnas, quem ganhou eleição e vai governar o Acre pelos próximos quatro anos é a Frente Popular com Tião Viana.

A segunda questão que liga-se ao resultado das eleições presidenciais e governamentais é a característica mais marcante em nossa sociedade revelada a cada eleição, o conservadorismo político.
Este é o maior paradoxo político-ideológico do governo da Frente Popular.

Mesmo com intensas e magníficas realizações, diga-se de passagem, infinitamente maior do que as dos governos desastrados que antecederam o de Jorge Viana em 1999, o movimento progressista prometido nos últimos 12 anos de governo do estado e em diversas eleições municipais, não foi realizado, na prática, na consciência social do nosso povo. O governador Binho Marques foi ousado na busca de políticas priorizando questões sociais, além de realizar investimentos em infra-estrutura num patamar maior do que o governo anterior e mesmo assim, não conseguiu fragilizar a onda conservadora que cresce aceleradamente em nossa população.

O histórico de Governo da FPA, consolida uma vertentente conservadora mesmo após 12 anos à frente da administração do Estado, o que não é bom para nenhuma sociedade. Claro que uma oposição sem qualidade vai adorar e trabalhar para que este contexto seja eternizado. Mas a Frente Popular já deveria ter vencido esta barreira e não deve desconsiderá-la.

Neste sentido, o Presidente Lula acerta ao falar de humildade e em erro político no Acre. Mas sofre de incoerência ao omitir que Jorge Viana deixou o governo estadual em 2005 com um destaque nacional pelo elevado índice de popularidade, expressando contradição com o resultado atual. Lula também é deselegante ao falar de Marina Silva.

Poderia reconhecer que ela fez bem a disputa no primeiro turno e foi bem votada no Brasil e no Acre, visto que aqui não estabeleceu palanque auxiliando a FPA e mesmo assim obteve 81.102 votos (23,45%) em pé de igualdade com Dilma que obteve 82.733 (23,92%). Marina foi grande na política e nas urnas. Certamente se reelegeria para o Senado no Acre.

Em São Paulo, Marina obteve 20,77% dos votos e Dilma 37,31%. Em São Bernardo do Campo Marina obteve 19.91%. Santo André 22,28%. E Porto Alegre 18,02%. Mas há dados curiosos que o Nobre presidente omite no apressado comentário: há um empate entre Marina e Dilma em Curitiba - Paraná, na casa dos 26%; vitória em Florianópolis -Santa Catarina, Marina 28,67% do eleitoado contra 27,43% de Dilma e; em Belo Horizinte, capital de Minas Gerais, Marina venceu eleição com 39,88% contra 30,92% de Dilma. A fonte é http://placar.eleicoes.uol.com.br/2010/1turno/ e sugere um olhar mais adequado para o processo específico das últimas eleições no Acre.

Bem! como dizia, o resultado das eleições presidenciais e governamental aqui expressa o pensamento conservador em nosso eleitorado. Então um fato concreto é que, Tião Viana, governador pelos próximos quatro anos, enfrenta o paradoxo do conservadorismo consolidado na sociedade acreana. Quem quiser fazer o debate responsável pelo avanço da nossa sociedade, deve partir desses pressupostos, reconhecendo o progresso estabelecido pela FPA, nas mais diversas instituições do Estado.

Quem não lembra dos salários usurpados por 06 meses se somados os dois governantes anteriores a 99? Quem não lembra dos pedágios em sinais e rotatórias, além dos sopões na haal da Aleac feitos por trabalhadores com meses de atrasos em seus salários, nos anos de 96 a 98? Quem não lembra das Instituições degradadas físicamente e administrativamente? quem não lembra dos escândalos e falências em empresas consistentes como a Sanacre, o Banacre, a Cohab e até mesmo a Eletroacre? Quem não lembra do desrespeito dos três poderes do Estado, aos movimentos civis organizados? Quem não lembra da dificuldade de transporte intermunicipal e do esforço empreendido nos últimos 12 anos pela integração da malha rodoviária? estes entre outros tantos fatos horríveis...

Vários líderes da oposição de agora participaram ativamente do período de desmandos e depredações da administração, do serviço público e por consequência, do desmantelamento do incipiente comércio local no período anterior a governo da FPA iniciado em 1999. Alguns assistiram no poder, sem tomar as devidas providências: crimes, assassinatos de lideranças populares dos trabalhadores e outros hediondos que ainda hoje nos assustam quando são lembrados. Estes líderes oposicionistas, não são os mais indicados para comandarem uma mudança que traga o avanço da consciência progressista em nosso povo. Isto também foi dito nas últimas eleições, pois, concretamente foram derrotados.

É claro que se há a cristalização do pensamento conservador em nossa sociedade, uma parte da responsabilidade está nos líderes dessa oposição, que estabelecem debates sem qualidades, olhando interesses miúdos ou ressentidos por estarem fora das possiblidades de direção do orçamento público e assim, não viabilizando seus interesses. Não contribuem para o fortalecimento da organização social ou de setores populares, pois nem é isso que lhes interessam, nem tão pouco o assunto lhes correpondem à história de vida, mas apenas os negócios ou interesses pessoais.

Contudo, grande parte da responsabilidade está na condução política da FPA. Ora não conseguindo imprimir barreiras para que o próprio governo não se tornasse conservador e ora como governo, influenciando com o conservadorismo a própria sociedade. No governo da FPA as configurações nos parlamentos seja estadual ou municipais, trás como ampla maioria dos parlamentares a vertente conservadora. A representação política de militantes é cada vez mais diminuta. Este fato influencia as alianças eleitorais e mesmo as composições de governo.

É preciso ter clareza que o povo em movimento social cria suas próprias saídas, suas próprias respostas com os elementos que estão a seu dispor e de acordo com sua compreensão da realidade. Nossa sociedade não vota ainda baseada nas idéias dos partidos políticos, seus programas e seus representantes. Vota em personalidades, mesmo que estas não apresentem nenhuma idéia consistente, ou programa partidário ou mesmo quando está claro que não conhecem nem o que é o partido ao qual estão filiados. É comum a votação expressiva em determinada liderança, ainda que expressivamente também se tenha aversão ao partido ao qual tal liderança é filiada. Este fato vem ferindo de morte a esquerda acreana.

Agir em torno desta fragilidade faz parte da Missão de Tião Viana. É necessário fortalecer os partidos. Isto significa ampliar o grau de interlocução. Ser sábio ao ouvir e ponderar as divergências. Ter cuidado para não enfraquecer um segmento dissonante ao ponto de também ser atingido por tal enfraquecimento. Retomar a reorganização de bases militantes especialmente nos casos das siglas de esquerda.

Um partido político não é um homem apenas, um parlamentar apenas ou uma expressão política. Um partido constitui-se de muitas personalidades, muitas lideranças e pessoas. A relação com um único interlocutor fragiliza e renova o caciquismo político. Os partidos por sua vez devem aprimorar o debate de idéias, centralizando a razão de sua existência e atuação não em cargos ou em demandas do parlamentar A ou B, que agirá no parlamento conforme for mais ou menos contemplado, mas no efetivo exercício da defesa das idéias justas e avançadas para o nosso desenvolvimento econômico e político.

A economia deve ser tratada para além da acumulação de riquezas ou concentração de renda como é grosseiramente vista por muitos. O foco mais adequado é de olhá-la como meio do nosso povo garantir a sua vivência a cada manhã, a cada dia, a cada ano, de maneira que a acumulação de uns não asfixie o conjunto da população. Os homens da iniciativa privada devem também perceber que a boa vivência em sociedade não depende ou corresponda a uma atribuição exclusiva do Estado.

A política deve ser tratada para além dos interesses eleitorais. É preciso que se organize a sociedade, dando aos mais variados setores ambientes para conversações, para esclarecimentos das limitações governamentais, das responsabilidades públicas e administrativas, mas também instrumentalizar a socieade civil organizada sobre os direitos, sobre as formas legais de acesso ao orçamento e recursos públicos, sobre encaminhamentos adequados dos problemas cotidianos que cada um vivi no árduo e diário trabalho de garantia da sobrevivência.

Em minha opnião estes aspéctos parecem ser complexos, mas o Estado já possui mecanismos de atuação que podem convergir para este rumo, dando resposta à mensagem das urnas que foi um "não" a atitudes descoladas da representação efetivada pelos eleitores como auto-suficiência em escolhas eleitorais contrariando expectativas populares; um "não" à tomadas de decisões influentes sem ouvir ou consultar a população; um "não" à realização de obras importantes sem diálogo esclarecedor sobre a necessidade, os transtornos e o resultado; um "não" à negociação pouco flexível quando da necessidade de agir utilizando o princípio da supremacia do interesse coletivo (público) sobre o particular; um "não" à falta de ambiente para debate, conversações e diálogos sobre idéias ou opiniões divergentes, entre outros.

Daí que é também missão do governador eleito a correção dos rumos. Isto indica que Tião Viana em sua frente, sob sua responsabilidade político-administrativa, um grande desafio. Governar o Acre nesta conjuntura será um desafio gigantesco. Sabemos, ainda que possamos identificar ou reconhecer erros de caminhada da FPA, que o governador eleito é ainda quem detêm o compromisso no bom enfrentamento a esse desafio. E o sucesso do governo eleito no enfrentamento e ajuste de rumos é o sucesso do nosso povo.

Os partidos da Frente Popular, devem ser meios importantes para a vitória nesta caminhada. Importa, por isso, estabelecer canais de conversação, não devendo ser um governar distante, sem ouvir a população, sobretudo a maioria que são os trabalhadores e os pobres em suas comunidades. É também necessário articular os militantes, dar-lhes tarefas organizativas e políticas. Nossa sociedade, aparentemente pequena em termos numéricos já possui dimensões gigantes em complexidade social.

Neste sentido, vale a pena relembrar novamente de Toinho Alves que sempre navega pelo Blog do Altino fazendo seus alertas à Frente Popular do Acre, desde longas datas na sua tentativa de reafirmação e de retomada de bandeiras históricas de lutas do movimento originário da FPA, dizendo que é preciso recuperar a idéia da palavra florestania.

Também ponderando sobre o descolamento do Estado, ao ponto de estar quase apartando-se do movimento social que originou a FPA; ou ainda, citando que as idéias, as concepções, os rumos já não são consensos e as visões discordantes daqueles que, efetivamente são companheiros de jornadas, passam a lhes dar a errada conotação de opositores, de adversários políticos, de que não devam mais ser ouvidos, estas entre outras tantas ponderações...

Tais ponderações e tamanho desafio nos remete (a FPA) a perguntas importantes, do tipo: - Com quem vamos fazer política? Com quem dicidiremos? E por fim, como decidiremos? Devemos dar mais ênfase ao mundo dos negócios? Às questões de mercado? Ou à organização e diálogo com as comunidades e trabalhadores? Qual o ponto de equilíbrio entre os pólos? O Estado com seus dirigentes pode colocar-se acima destas questões?

Assim, penso ser por tais reflexões que devemos abrir o verdadeiro debate sobre o futuro progressita do governo do Acre. Ir aos pressupostos é fundamental para então dialogarmos sobre legalidade e moralidade, sobre legalidade e ética, sobre conceitos como por exemplo o de cultura e sobre prioridades com os gastos públicos, como por exemplo, um show ou um programa de renda mínima.

Estas, a meu ver, são as questões centrais para quem atua pelo avanço da nossa consciência social e, portanto, da quebra do conservadorismo no Acre. E este texto é para abrir uma conversa franca sobre o assunto.


Frank Batista, é licenciado em História pela UFAC

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

JUSTIÇA

JUSTIÇA

José Saramago

"... a Justiça continuou e continua a morrer todos os dias. Agora mesmo, neste instante em que vos falo, longe ou aqui ao lado, à porta da nossa casa, alguém a está matando.

De cada vez que morre, é como se afinal nunca tivesse existido para aqueles que nela tinham confiado, para aqueles que dela esperavam o que da Justiça todos temos o direito de esperar: justiça, simplesmente justiça.

Não a que se envolve em túnicas de teatro e nos confunde com flores de vã retórica judicialista, não a que permitiu que lhe vendassem os olhos e viciassem os pesos da balança, não a da espada que sempre corta mais para um lado que para o outro, mas uma justiça pedestre, uma justiça companheira quotidiana dos homens, uma justiça para quem o justo seria o mais exacto e rigoroso sinônimo do ético, uma justiça que chegasse a ser tão indispensável à felicidade do espírito como indispensável à vida é o alimento do corpo.

Uma justiça exercida pelos tribunais, sem dúvida, sempre que a isso os determinasse a lei, mas também, e sobretudo, uma justiça que fosse a emanação espontânea da própria sociedade em ação, uma justiça em que se manifestasse, como um iniludível imperativo moral, o respeito pelo direito a ser que a cada ser humano assiste."

terça-feira, 9 de novembro de 2010

40º ANIVERSÁRIO DE APARIÇÃO DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA




Hoje recebi uma mensagem lembrando do aniversário de aparição de Nossa Senhora de Fátima. Devotos comemoram esta discreta e singela passagem que trouxe para a humanidade mais uma reafirmação cristã da mensagem de paz para a terra. Curiosamente a aparição é dirigida à três crianças num tempo de guerra mundial. Vamos aproveitar e meditar sobre os caminhos dos homens neste plano.